11 agosto 2016

Sobre mulheres falando na igreja

Benjamin B. Warfield[1]

Recibi recentemente a carta de um apreciado amigo que pedia que lhe enviasse uma “discussão das palavras gregas laleo e lego em passagens tais como 1 Co 14:33-39, em especial referência à pergunta: ‘o versículo 34 proíbe a todas as mulheres em todas as partes de falar ou pregar em público, ou somente em igrejas cristãs?’” Como o assunto é de interesse universal, tomo a liberdade de compartilhar a minha resposta aos leitores do Presbyterian.[2]

Requer que se diga imediatamente que não há problema com referência as relações de laleo e de lego. Além dos detalhes de interesse puramente filológico, estas palavras se encontram relacionadas uma a outra exatamente do mesmo modo que estão as palavras inglesas falar e dizer; ou seja, que laleo expressa o ato de falar, enquanto que lego se refere ao que é dito. Sempre, pois, que o ato de falar, sem referência ao conteúdo do que se diz, deve ser indicado, se utiliza laleo, e deve ser utilizado. Não há nada desqualificador ou depreciativo no que sugere a palavra, e do mesmo modo, não há em nossa palavra falar; ainda que, se possa em alguma ocasião ser utilizada em termos depreciativos como também o possa ser a nossa palavra falar (como quando alguns dos periódicos insinuam que o senado está “entregue a meras palavras”). Esta aplicação desqualificadora de laleo, todavia, nunca ocorre no Novo Testamento, ainda que a palavra seja utilizada com muita frequência.

A palavra está em seu lugar correto em 1 Co 14:33 e seguintes, e necessariamente leva consigo o significado simples e natural. Se necessitássemos de algo para fixar o seu significado, todavia, isto determinaria o seu uso frequente na parte precedente do capítulo, de onde se refere não somente o falar em línguas (que era una manifestação divina, e ininteligível somente devido às limitações dos ouvintes), senão também ao falar profético, o qual se declara diretamente que é “para edificação, exortação e consolação” (v. 3-6). Também o seu sentido seria mais pungentemente determinado, todavia, pelo termo que põe em contraste aqui: “calem” (v. 34). Aqui se define diretamente laleo: “as mulheres calem, porque não lhes está permitido falar.” “Calar – falar”: são duas coisas opostas; e uma define a outra.

É importante observar, agora, que o eixo ao redor do qual gira a prescrição destes versos, não radica na proibição de falar tanto como no mandamento do silêncio. Esta é a prescrição principal. A proibição de falar é introduzida em seguida somente para explicar o significado de forma mais completa. O que Pablo diz em breve é: “as mulheres se calem nas igrejas.” Isso seguramente é suficientemente direto e específico para suprir todas as necessidades. Então, ele agrega a explicação: “Porque não lhes está permitido falar.” “Não está permitido” é uma apelação a uma lei geral, válida aparte do mandamento pessoal de Paulo, e se conecta com as palavras precedentes: “como em todas as igrejas dos santos.” Ele somente está exigindo às mulheres de Corinto que se o à lei geral das igrejas. E esse é o significado das quase amargas palavras que agrega no verso 36, com as quais (reprovando-as pela inovação de permitir que as mulheres falem nas igrejas), e lhes recorda que eles não são os autores do Evangelho, e muito menos os seus únicos detentores: ele exigia que guardassem a lei obrigatória para todo o corpo de igrejas e que não buscassem a seu modo alguma inovação de sua recente fabricação.

Os versos intermediários somente deixam claro que o que o apóstolo está precisamente fazendo é proibir às mulheres falar na igreja em termos absolutos. A sua prescrição de silêncio o leva tão longe até o ponto de proibir inclusive fazer perguntas; e agrega com especial referência a isso, mas com isso ao assunto geral, a vigorosa declaração de que “é indecoroso” — pois tal é o significado da palavra— “que uma mulher fale na igreja”.

Seria impossível que o apóstolo fale de forma mais direta ou mais enfática que como o fez aqui. Ele exige às mulheres que guardem silêncio nas reuniões da igreja; pois, isso é o que significa “na congregação”, e que não haveria edifícios para a igreja. E ele não nos deixou com dúvida quanto à natureza destas reuniões da igreja. Acabava descrevê-las nos versículos 26 adiante. Eram do carácter geral de nossas reuniões de oração. Observe as palavras “cale na igreja” do versículo 30, e compará-las com “calem nas congregações” no v. 34. A proibição de que as mulheres falem, envolve assim todas as reuniões públicas da igreja; pois se trata do carácter público, não da formalidade. E ele nos diz em reiteradas ocasiões que esta é a lei universal da igreja. Faz mais que isso: nos diz que esse é o mandamento do Senhor, e enfatiza a palavra “Senhor” (v. 37).

A passagem de 1 Tm 2:11 e etc é tão vigoroso como este, somente que se dirige mais particularmente ao caso específico do ensino público e à condução na igreja. O apóstolo neste contexto (o verso 8 diz “os varões” em contraste com “as mulheres” do verso 9) haveria restringido especificamente a oração pública aos homens, e então continua: “a mulher aprenda em silêncio, com toda sujeição. Porque não permito à mulher ensinar, nem exercer domínio sobre o homem, senão estar em silêncio”. Nem o ensino, nem a função de condução se permite à mulher. O apóstolo diz aqui, “não permito” em vez de dizer, como em 1 Co 14:33 e seguintes, “não está permitido” porque ele aqui está dando as instruções pessoais à Timóteo, seu subordinado, enquanto que anunciava aos coríntios a lei geral da igreja. O que ele ordena a Timóteo, todavia, é a lei geral da igreja. E desta maneira avança e fundamenta a proibição numa razão universal que igualmente afeta toda a raça.

Na presença destas duas tão absolutamente claras e enfáticas passagens, não se pode apelar ao que se diz em 1 Co 11:5 para mitigar, nem modificá-los. Qual é o significado exato de 1 Co 11:5, ninguém o sabe absolutamente. É declarado que toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua cabeça. Parece justo deduzir que se ela ora, ou profetiza, não desonra sua cabeça. E parece ainda mais justo deduzir que ela pode orar ou profetizar corretamente se tão somente o fizesse usando o véu. Estamos armando uma cadeia de inferências. E não nos levou muito longe. Não podemos deduzir que seria apropriado que ela orasse ou profetizasse na igreja se tão somente estivesse usando o véu. Nada se diz da «igreja» na passagem nem no contexto. A palavra “igreja” não aparece até o verso 16, e ali não como regendo a referência da passagem, mas somente como proporcionando um apoio adicional para a prescrição da passagem. Não há razão para crer que “orar e profetizar” em 11:5 quer dizer na igreja. Nem um nem outra eram atividades limitadas à igreja. Se como em 1 Co 14:14, o “orar” de que se fala era um exercício extático — como seu lugar de “profetizar” pode sugerir— então a inspiração divina ultrapassaria todas as leis ordinárias que a rege. E nota-se que há ocasião para observar que a oração em público está proibida para as mulheres em 1 Tm 2:8-9, a menos que o que esteja considerando seja a simples assistência a oração, em cujo caso esta passagem é um paralelo próximo a 1 Tm 2:9.

O que se deve observar como conclusão é:
(1) Que a proibição de que as mulheres falem na igreja é precisa, absoluta, e completamente inclusiva. Elas devem se calar nas igrejas — e isso significa em todas as reuniões públicas para adoração; nem sequer podem fazer perguntas.
(2) Que esta proibição indica o ponto particular precisamente para os assuntos de ensino e de conduta, incluindo especificamente as funções de presbíteros e da pregação.
(3) Que os argumentos sobre os quais se fundamenta a proibição são universais e dependiam da diferença de sexo, e particularmente nos lugares relativos dados aos sexos na Criação e na história fundamental da raça (decaída).

Talvez, devesse agregar a fim de esclarecer o último ponto quanto a diferença nas conclusões entre Paulo e o movimento feminista de hoje, ou seja, que a questão está arraigada numa diferença fundamental na perspectiva de ambos quanto à constituição da raça humana. Para Paulo a raça humana se compõe de famílias, e todos os diversos organismos – incluindo a igreja – estão compostos de famílias, unidos juntos por este, ou por outro vínculo. A relação dos sexos na família se estende, portanto, também à igreja. Para o movimento feminista a raça humana é composta de indivíduos. Uma mulher é simplesmente outro indivíduo ao lado do homem, e não se pode considerar nenhuma razão, para nenhuma diferença ao tratar com os dois. E, se podemos ignorar a grande diferença fundamental e natural dos sexos e destruir a grande unidade social e fundamental da família em prol do individualismo, não haveria nenhuma razão porque não devamos eliminar as diferenças estabelecidas por Paulo entre os sexos na igreja, exceto pela sua autoridade. Tudo isto, finalmente, nos faz voltar para a autoridade dos apóstolos como os fundadores da igreja. Gostemos do que Paulo disse, ou não; podemos estar dispostos a fazer o que ele ordena, ou não. Mas, não há lugar para a dúvida quanto ao que ele disse. E ele nos diria certamente novamente o que disse aos coríntios: “acaso saiu de vocês a palavra de Deus, ou ela chegou somente a vocês?” É este o nosso cristianismo: fazer o que nos agrada? Ou, é a religião de Deus que recebe as suas leis através dos apóstolos?

NOTAS:
[1] Artigo sobre a interpretação de 1 Co 14:34-35 com algumas notas incisivas acerca das premissas anticristãs e individualistas da ideologia feminista. Nota do editor.
[2] Publicado originalmente no periódico The Presbyterian em 30 de Outubro de 1919. Nota do tradutor.


Extraído de Benjamin B. Warfield, “Paul on women speking in Church” in: John W. Robbins, ed., The Church Effeminate (Unicoi, The Trinity Foundation, 2001), pp. 212-216.
Traduzido em 16 de Dezembro de 2014.
Revisado em 10 de Agosto de 2016.

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