25 dezembro 2011

Evangelicalismo enfermo

O que uma vez foi falado das igrejas liberais precisa ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, creêm na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo, e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia torna-se incapaz de alimentar as exigências da vida nestes tempos pós-modernos. Por si mesma, a Palavra de Deus seria insuficiente de alcançar pessoas para Cristo, promover crescimento espiritual, prover um guia prático, ou transformar a sociedade. Deste modo, igrejas acrescentam ao simples ensino da Escritura algum tipo de entretenimento, grupo de terapia, ativismo político, sinais e maravilhas - ou, qualquer promessa apelando aos consumidores religiosos.

De acordo com a teologia do mundo, pecado é meramente uma disfunção e salvação significa desfrutar de uma melhor auto-estima. Quando esta teologia adentra a igreja, ela coloca dificuldades em doutrinas essenciais como a propiciação da ira de Deus substituindo-a com técnicas e práticas de auto-aceitação. A agenda do mundo é a felicidade pessoal, assim, o evangelho é apresentado como um plano para a realização pessoal, em vez de ser a caminhada de um comprometido discipulado. Para terminar, vemos que os métodos do mundo nesta agenda egocêntrica é necessariamente pragmática, sendo que as igrejas evangélicas estão se esforçando a todo custo em refletir o modo como elas operam. Este mundanismo tem produzido o "novo pragmatismo" evangélico.

Extraído de James M. Boice & Philip G. Ryken, The Doctrines of Grace, pp. 20-21
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki

08 dezembro 2011

Eu creio em sola Scriptura

O propósito deste artigo é apresentar que como herdeiros da Reforma recebemos e preservamos o legado do princípio sola Scriptura. Este é o pilar fundamental para todos os outros, e ao mesmo tempo norteador essencial da nossa identidade reformada. O presbiterianismo possui o seu sistema doutrinário centrado na Escritura Sagrada. Desde a Reforma do século XVI foi ensinada a doutrina da sola Scriptura – ou seja, que a Escritura é a única fonte e regra de autoridade. Isto significa que a base da nossa doutrina, forma de governo, culto e práticas eclesiásticas não está no tradicionalismo, racionalismo, subjetivismo, relativismo, pragmatismo, ou no pluralismo, mas extraída e fundamentada somente na Escritura Sagrada, porque cremos que ela é a verdade absoluta revelando a vontade de Deus.

O princípio da sola Scriptura não exclui outras referências de autoridade. Isto significa que
só a Bíblia tem autoridade de obrigar a consciência dos crentes. Os protestantes reconheciam outras formas de autoridade, como cargos da igreja, magistrados civis, credos e confissões eclesiásticas. Mas viam essas autoridades como sendo derivadas de e subordinadas à autoridade de Deus. Nenhuma dessas autoridades menores era considerada absoluta, porque todas elas eram capazes de erro. Somente Deus é infalível. Autoridades falíveis não podem constranger a consciência de modo absoluto; este direito é reservado somente a Deus e à sua Palavra.[1]

A Escritura Sagrada é a autoridade suprema em que todas as questões doutrinárias e eclesiásticas devem ser decididas (Dt 4:2). Esta doutrina é importantíssima para a purificação da Igreja. Tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como artigo de Fé ou, julgado como exigência ou, necessário para a salvação. Na Bíblia o homem encontra tudo o que precisa saber, e tudo o que necessita fazer a fim de que seja salvo, e viva de modo agradável a Deus, servindo e adorando-O (2 Tm 3:16-17; 1 Jo 4:1; Ap 22:18). Somente a Escritura Sagrada é autoridade absoluta para definir as nossas convicções, porque apenas nela encontramos a verdadeira sabedoria do alto. Ela rege as nossas decisões e molda o nosso comportamento, como também determina a qualidade dos nossos relacionamentos.

NOTAS:
[1] R.C. Sproul, O que é teologia reformada – seus fundamentos e pontos principais de sua soteriologia (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2009), p. 35.

06 dezembro 2011

Os livros apócrifos da Bíblica católica

Nem sempre a Igreja Católica Apostólica Romana aceitou os Apócrifos como inspirados. Isto significa dizer que enquanto os reformadores não declararam "sola Scriptura" não provocou a resposta da Igreja Católica Romana sobre o que ela considerava "Escritura Sagrada". Hulrich Zwingli foi um dos primeiros a declarar formalmente o princípio da sola Scriptura em seu texto conhecido como as "67 Conclusões", considerada a primeira confissão doutrinária da Reforma.

No Concílio de Trento (1545-1563) na 4ª sessão de 8 de Abril de 1546 no Decreto Concernente às Escrituras Canônicas lemos a decisão:
Mas se alguém não recebê-los [os apócrifos] como sagrados e canônicos os livros completos e em todas as suas partes, conforme têm sido usados para leitura na Igreja Católica, como se contém na velha edição Vulgata; e conhecendo-a, conscientemente condenar as tradições citadas, que seja anátema.[1]

Esta decisão da Igreja Romana implicou que ao adotar a Vulgata Latina como texto padrão oficial, ela endossou todos os livros apócrifos que esta tradução continha. A Vulgata é uma tradução latina da Bíblia feita em 382-385 d.C., baseanda no Antigo Testamento na Septuaginta[2] e não do texto hebraico original. O seu tradutor foi Sofrônio Eusébio Jerônimo (340-420 d.C.). Em outras palavras a Vulgata Latina é uma tradução de outra tradução. O resultado foi que o cânon [coletânea] católico possui 7 livros a mais (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc) e alguns acréscimos nos livros de Ester e Daniel, diferindo da original Bíblia Hebraica.[3]

NOTAS:
[1] Phillip Schaff, The Creeds of Christendom (Wm. B. Eerdmans Publishers), vol. 2, pág. 82.
[2] A Septuaginta (LXX) é a tradução do Antigo Testamento feita entre 200 a 150 a.C., por uma equipe de 70 judeus. Embora a tradução foi realizada à partir do texto hebraico, foram acrescentadas vários outros livros religiosos, escritos em grego, que circulavam entre judeus. Norman Geisler & William Nix, Introdução Bíblica (Editora Vida), pp. 196 e 213.
[3] Catecismo da Igreja Católica, Parte I, cap. II, art. 3. iv, (Editora Vozes), p. 43