06 agosto 2011

O "memorial' de Blaise Pascal

Numa noite o matemático e filósofo francês Blaise Pascal teve uma experiência marcante, que veio registrar num pedaço de papel. Este "memorial" manteve costurado em sua roupa, de onde o seu empregado somente o retirou após a sua morte.
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No ano da graça de 1654. Segunda-feira, 23 de Novembro, dia de são Clemente, papa e mártir, e de outros no martirológio. Vigília de são Crisógono mártir e de outros.

De cerca das dez e meia da noite até cerca de meia-noite e meia. Fogo!

"Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó" e não dos filósofos e dos sábios. Certeza, certeza, sentimento, alegria, paz. Deus de Jesus Cristo. Deum meum et Deum vestrum. "O teu Deus será o meu Deus." Esquecimento do mundo e de tudo, à exceção de Deus. Que só se encontra pelos caminhos mostrados pelo Evangelho. Grandeza da alma humana. "Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci." Alegria, alegria, alegria, prantos de alegria.

Mas eu me separara. Dereliquerunt me fontem aquae vivae. "Deus meu, me abandonarias?" Que eu nunca mais me separe dele, eternamente. "Esta é a vida eterna: que te reconheçam como o único Deus verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo." Jesus Cristo, Jesus Cristo. Eu me separara: o afastei, reneguei e crucifiquei. Que nunca mais me separe dele. Que só se conserva pelos caminhos mostrados pelo Evangelho. Renúncia total e doce. Completa submissão a Jesus Cristo e ao meu diretor. A alegria eterna por um dia de prova sobre a terra. Non obliviscar sermones tuo. Amem.

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Extraído de Giovanni Reale - Dario Antiseri, História da Filosofia (São Paulo, Editora Paulus, 8a.ed., 2007) vol.2, págs. 600-601.