24 abril 2010

Fórmula de absolvição da indulgência

A Igreja Católica Apostólica Romana há muito oferece a indulgência para os seus fiéis. Esta é uma prática ainda usual no romanismo do século XXI, entretanto, menos em voga do que há alguns séculos atrás, em que era artigo de consumo muitíssimo procurado pelo ignorantes.

Com o renovado entendimento de Rm 1:16-17, Martinho Lutero recebe a indulgência como sendo uma afronta à suficiência de Cristo na redenção do pecador. Atuando como professor de Bíblia na recém organizada Universidade de Wittemberg, e também como padre da igreja local, viu o grande mal que Johannes Tetzel causava nesta cidade apregoando a promessa do perdão dos pecados e a libertação das penas, sob a garantida condição de se comprar uma indulgência. Sabemos da história, e que Lutero fixou nos portais da Catedral de Wittenberg as suas 95 Teses dando início ao movimento de Reforma.

Jean-Henri Merle d'Aubigné ministro protestante suíço e historiador na obra História da Reforma do Século XVI a [1] registra a fórmula de absolvição da infame indulgência vendida por Tetzel:

Que nosso Senhor Jesus Cristo tenha piedade de ti, ........ [nome do comprador da indulgência], e te absolva pelos merecimentos de sua santíssima paixão! E eu, em virtude do poder apostólico que se me há conferido, te absolvo de todas as censuras eclesiásticas, sentenças e penas em que tenhas incorrido; e também de todos os excessos, pecados e crimes que tenhas cometido, por grandes e enormes que possam ser, e por qualquer causa que seja, ainda quando fossem dos reservados a nosso santíssimo padre, o papa, e à sé apostólica. Eu apago todas as manchas de incapacidade e todas as notas de infâmia de que te tenhas coberto até esta ocasião. Perdoô-te as penas que tenhas devido sofrer no purgatório. Faço-te de novo participante dos sacramentos da igreja. Imploro-te outra vez na comunhão dos santos, e te reestabeleço na inocência e na pureza que tiveste no ato de teu batismo. De maneira que, no momento de tua morte, a porta pela qual se entra para o lugar dos tormentos e das penas te será fechada, e, ao contrário, a porta que conduz ao paraíso da alegria te será aberta. E se tu não tiveres de morrer em breve, esta graça permanecerá imutável até o momento de teu fim derradeiro. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Frei Johannes Tetzel, comissário, a assinou de seu próprio punho.


Notas:
[1] J.H. Merle D'Aubiné, História da Reforma do Século XVI (SP, Casa Editora Presbiteriana, s/d), volume 1 , págs. 239-240.

20 abril 2010

Biblioteca Calvinista - 4


MANUAIS DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA

1. À BRAKEL, Wilhelmus, The Christian’s Reasonable Service (Reformation Heritage Books), 4 volumes.
2. BAVINK, Herman, Reformed Dogmatics (Presbyterian & Reformed Publishing), 4 volumes.
3. BAVINK, Herman, Teologia Sistemática (SOCEP).
4. BEARDSLEE III, John W., Reformed Dogmatics (Baker Books House).
5. BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática (Editora Cultura Cristã).
6. BUSWELL, Jr., James O., A Systematic Theology of the Christian Religion (Zondervan Publishing House), 2 volumes.
7. CHEUNG, Vincent, Introdução à Teologia Sistemática (Arte Editorial).
8. CLARK, David S., Compêndio de Teologia Sistemática (Casa Editora Presbiteriana).
9. CUNNINGHAM, William, Theological Lectures (APress).
10. DABNEY, Robert L., Systematic Theology (The Banner of Truth), 3 volumes.
11. GREENDYK, Nicholas L., An Specimen of Divine Truths (Netherlands Reformed Book & Publishing Committee), 2 volumes.
12. HANKO, Ronald, Doctrine According to Godliness – A Primer of Reformed Doctrine (Reformed Free Publishing Association).
13. HEPPE, Heinrich, Reformed Dogmatics (Wakeman Great Reprints).
14. HODGE, A.A., Esboços de Teologia (Editora PES).
15. HODGE, A.A., Evangelical Theology (The Banner of Truth).
16. HODGE, Charles, Teologia Sistemática (Editora Hagnos).
17. HOEKSEMA, Herman, Reformed Dogmatics (Reformed Free Publishing Association), 2 volumes.
18. KERSTEN, G.H., Reformed Dogmatics (Netherlands Reformed Book), 2 volumes.
19. PACKER, J.I., Teologia Concisa (Editora Cultura Cristã).
20. REYMOND, Robert L., A New Systematic Theology of Christian Faith (Nelson Thomas Publishing).
21. SHEDD, William G.T., Dogmatic Theology (Baker Books House), 2 volumes.
22. SMITH, Morton H., Systematic Theology (Greenville Seminary Press), 2 volumes.
23. SPYKMAN, Gordon J., Teologia Reformacional - Un Nuevo Paradigma Para Hacer la Dogmatics (TELL).
24. TURRENTIN, Francis, Institutes of Elenct Theology (Presbyterian & Reformed Publishing), 3 volumes.
25. VAN GENDEREN, J. & W.H. Velema, Concise Reformed Dogmatics (Presbyterian & Reformed Publishing).
26. WATSON, Thomas, A Fé Cristã (Editora Cultura Cristã).
27. WITSIUS, Herman, The Economy of the Covenants between God and Man - Comprehending a Complete Body of Divinity (Dulk Christian Foundation), 2 volumes.

Obs. Os manuais de Teologia Sistemática abaixo não foram listados com os demais, pois, apesar de serem calvinistas não pertencem a tradição presbiteriana/reformada, mas, são dignos de menção e proveitosos, resguardadas as diferenças quanto à eclesiologia batista e escatologia. Da obra do Wayne Grudem ainda deve-se advertir ser ele um carismático, defensor da continuidade dos dons revelacionais.

1. GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemática (Edições Vida Nova).
2. FERREIRA, Franklin & Alan Myatt, Teologia Sistemática (Edições Vida Nova).
3. DAGG, John L., Manual de Teologia (Editora Fiel).
4. BOYCE, James Pettigru, Abstract of Systematic Theology (Broadman Press).

14 abril 2010

Lutero sobre o conceito de livre-arbítrio de Erasmo

Erasmo de Roterdã, o mais influente humanista, escreveu um pequeno livro, em 1524, com o título De libero arbitrio Diatribe sive collatio [1]. É uma obra de Antropologia da perspectiva humanista carregada de premissas sinergistas da teologia Católica Romana, da qual Erasmo apesar das muitas críticas nunca se separou.

A obra é escrita num estilo de diatribe. Este é um recurso literário usado desde a antiga filosofia grega, se caracteriza por ser um discurso ou conversação filosófica, onde duas ou mais pessoas debatem por meio de perguntas e respostas, argumentos, discordâncias e análise de implicações as teses do locutor. A Diatribe ainda trás algumas comparações das opiniões de Pais da Igreja como Orígenes, Ambrôsio e Jerônimo.

Neste livro o humanista holandês argumentou a favor de uma perspectiva sinergista ou, libertariana de livre-arbítrio. Ele o define como sendo "a potência, através da qual o ser humano se pode inclinar ou afastar ao/do que leva à salvação eterna." Desta forma ele apresenta a sua principal discordância e afastamento de Lutero e demais reformadores.

Um cópia da Diatribe chegou às mãos de Lutero que não se interessou em responder de imediato. O reformador alemão escreveu uma refutação com o título De servo arbitrio. Na introdução do livro desculpa-se escrevendo que "o fato de responder tardiamente a tua Diatribe a respeito do livre-arbítrio, venerável Erasmo, aconteceu contra a expectativa de todos e contra o costume". Mas, a obra veio no momento necessário para responder as teses de Erasmo. Lutero apesar de opor frontalmente à Erasmo, reconhece dois motivos de dívida com o humanista. Introdutoriamente, ele escreve a sua opinião sobre o texto de Erasmo
Pois bem, pode haver pessoas que ainda não tenham percebido o Espírito como mestre em meus escritos e tenham sido abatidos por essa Diatribe; talvez a hora delas ainda não tenha chegado. E quem sabe, caro Erasmo, se Deus não vai querer visitar também a ti por meio de mim, seu mísero e frágil vaso, para que, numa hora feliz (pelo que rogo de coração ao Pai das misericórdias por meio de Cristo, nosso Senhor), eu venha a ti através deste livrinho e ganhe um caríssimo irmão. Pois embora penses e escrevas inadequadamente sobre o livre-arbítrio, tenha contigo uma considerável dívida de gratidão, pois tornaste minha opinião muito mais firme para mim quando vi que a causa do livre-arbítrio foi tratada com o máximo esforço por uma inteligência tão importante e tão grande e que nada se realizou, de modo que ela está em situação pior do que antes. Isto é uma prova evidente de que o livre-arbítrio não passa de uma mentira, porque [ocorre com ele o mesmo que no] exemplo daquela mulher no evangelho: quanto mais é tratada pelos médicos, pior fica. Por conseguinte, te retribuirei abundantemente minha dívida de gratidão se adquirires maior certeza por meu intermédio, assim como eu adquiri maior firmeza por ti.
[2]

Ainda no fim de De servo arbítrio, Lutero explica o segundo motivo de gratidão com Erasmo. Ele escreve
Agora, meu Erasmo, peço-te, por Cristo, que cumpras o que prometeste; pois prometeste ceder ao que ensina algo melhor. Esquece a consideração de pessoas! Admito que és um grande homem e dotado por Deus com muitos dos mais nobres dons, para não falar dos demais, de teu talento, erudição e da eloqüência quase milagrosa. Eu, no entanto, nada tenho e nada sou, a não ser que quase me possa gloriar de ser cristão. Além, disso elogio e gabo muito em ti o seguinte: és o único que atacou a questão em si, isso é, a questão essencial, e não me fatigaste com aqueles assuntos secundários sobre o papado, o purgatório, as indulgências e outras coisas deste tipo que mais são frivolidades do que questões [sérias], pelas quais até agora quase todos tentaram caçar-me em vão. Tu como único reconheceste o ponto central de toda [controvérsia] e pegaste a coisa pela gravata; por isso te agradeço de coração. Pois este tema gosto de ocupar-me muito mais, sempre que as circuntâncias e o tempo o permitem. Se aqueles que até agora me agrediram tivessem feito isso, se ainda o fizessem aqueles que apenas insistem em novos espíritos, em novas revelações, teríamos menos sedições e seitas, e mais paz e concórdia.
[3]

Lutero usa uma linguagem humilde e reconhece a capacidade intelectual do seu opositor. Todavia, O reformador não se intimida com a Diatribe de Erasmo, pelo contrário contraargumenta e convida-o ao arrependimento, de modo que, sob a autoridade da Escritura pudessem ter o mesmo pensamento, mas, o abismo entre eles somente aumentou.

Notas:
[1] Um debate acerca do livre-arbítrio com uma comparação (tradução minha).
[2] LUTERO, Martinho, Obras Selecionadas de Martinho Lutero, vol. 4, pág. 19.
[3] LUTERO, Martinho, op. cit., vol. 4, pág. 215.
[4] Para o estudo do pensamento de Lutero, à partir de fontes, as Obras Seleciondas de Martinho Lutero.
[5] Agradeço ao irmão Rildo Albino por suas atentas observações gramaticais na revisão dos meus artigos. Obviamente que todo erro ainda presente, deve ser creditado somente a mim.

08 abril 2010

Biblioteca Calvinista - 3


CATECISMOS & CONFISSÕES

Dentro da tradição Reformada se encontra o uso dos catecismos e confissões de fé. Segue uma lista indicando alguns dos principais livros contendo os catecismos e confissões reformadas, bem como obras quanto ao seu uso e importância teológica.

Os principais documentos de identidade reformada que podem ser estudados são:
1. Confissão Gaulesa [Francesa, ou de Rochelle] – (1559)
2. Confissão Escocesa - (1560)
3. Confissão Belga – (1561)
4. XXXIX Artigos de Fé da Religião Anglicana (1563)
5. Catecismo de Heidelberg – (1563)
6. Segunda Confissão Helvética – (1562-1566)
7. Cânones de Dort (1618-1619)
8. Breve Catecismo de Westminster – (1647-1648)
9. Catecismo Maior de Westminster – (1647-1648)
10. Confissão de Fé de Westminster – (1647-1648)

1. A Confissão de Fé de Westminster (Editora Cultura Cristã).
2. BEEKE, Joel R. & Sinclair Ferguson, Harmonia das confissões de fé reformada (Editora Cultura Cristã).
3. BIERMA, Lyle D., An Introduction to the Heidelberg Catechism – Sources, History and Theology (Baker Academics).
4. Cânones de Dort (Editora Cultura Cristã).
5. Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg (Editora Cultura Cristã).
6. COSTA, Hermisten M.P. da, Eu Creio (Editora Cultura Cristã).
7. CLARK, Gordon H., What Do Presbyterians Believe? – The Westminster Confession Yesterday and Today (The Trinity foundation).
8. CLARK, R. Scott, Recovering the Reformed Confession – our Theology, Piety and Practice (Presbyterian & Reformed Publishing).
9. DE JONG, Peter Y., Crisis in the Reformed Churches – Essays Commemoration of the Great Synod of Dort 1618-1619 (Reformed Fellowship Inc.).
10. DENNISON JR., James T., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English Translation (Reformed Heritage Books), 2 volumes.
11. HOEKSEMA, Homer C., The Voice of Our Fathers – An Exposition of the Canons of Dordrecht (Reformed Free Publishing Association).
12. HYDE, Daniel R., With Heart and Mouth – An Exposition of the Belgic Confession (Reformed Fellowship Inc.).
13. HODGE, A.A., Confissão de Fé de Westminster Comentada (Editora Os Puritanos).
14. JANSE, J.C., La Confesión de la Iglesia – Comentario al Catecismo de Heidelberg (Felire).
15. KERSTEN, G.H., Heidelberg Catechism Sermons (Netherland Reformed Book and Publishing).
16. O Breve Catecismo de Westminster (Editora Cultura Cristã).
17. O Catecismo Maior de Westminster (Editora Cultura Cristã).
18. SCHAFF, Philip, The Creeds of Christendom (Baker Books House), 3 volumes.
19. SHAW, Robert, The Faith Reformed – An Exposition of the Westminster Confession of Faith (Christian Focus Publications).
20. SIMÕES, Ulisses Horta, A Subscrição Confessional – Necessidade, Relevância e Extensão (Efrata Publicações).
21. SMITH, Morton H., The Case for Full Subscription to the Westminster Standards in the Presbyterian Church in America (GPTS Press).
22. URSINUS, Zacharias, Commentary on the Heidelberg Catechism (Presbyterian & Reformed Publishing).
23. VENEMA, Cornelis P., What We Believe – An Exposition of the Apostles’ Creed (Reformed Fellowship Inc.).
24. VOS, Johannes Geerhardus, Catecismo Maior de Westminster Comentado (Os Puritanos).

03 abril 2010

Biblioteca calvinista - 2


BIOGRAFIA E PENSAMENTO DE JOÃO CALVINO

João Calvino não foi um escritor tão prolixo como Martinho Lutero. Entretanto, as obras do reformador genebrino possuem maior coerência interna do que as de Lutero. É consenso entre historiadores, teólogos e exegetas que Calvino assumiu um papel de proeminência como escritor durante a segunda geração de reformadores magistrais. A influência de seus textos expandiram-se em toda a Europa, e dali para todos os demais continentes. Todas as suas obras contabilizam o número de 59 volumes no Corpus Reformatorum, especificamente os volumes 29 a 87.

Abaixo indico algumas obras que julgo serem relevantes para o estudo do pensamento de Calvino e do Calvinismo:

1. BEEKE, Joel R., Living for God’s Glory – An Introduction to Calvinism (Reformation Trust Publishing).
2. BEZA, Theodoro de, A vida e a morte de João Calvino (Editora Luz Para o Caminho).
3. BIÉLER, André, O Pensamento Econômico e Social de Calvino (Editora Cultura Cristã).
4. BOICE, James M. & Philip G. Ryken, The Doctrines of Grace (Crossway Books).
5. CALVINO, João, Cartas de João Calvino (Editora Cultura Cristã).
6. CALVINO, João, Institutas da Religião Cristã (Editora Cultura Cristã), 4 volumes.
7. CALVINO, João, Textos Escolhidos (Editora Pendão Real).
8. CALVIN, John, Calvin’s Commentaries (Baker Books House), 22 volumes.
9. CALVIN, John, Tracts and Letters (The Banner of Truth), 7 volumes.
10. COSTA, Hermisten M.P. da, Calvino de A a Z (Editora Vida).
11. COSTA, Hermisten M.P. da, João Calvino 500 anos - Introdução ao seu pensamento e obra (Editora Cultura Cristã).
12. CRAMPTON, W. Gary, What Calvin Says (The Trinity Foundation).
13. HANKO, Herman & David J. Engelsma, The Five Points of Calvinism (British Reformed Fellowship).
14. HELM, Paul, Calvin & Calvinism (The Banner of Truth).
15. HELM, Paul. John Calvin’s Ideas (Oxford University Press).
16. HESSELINK, I. John, Calvin’s Concept of the Law (Princeton Theological Monograph Series).
17. HESSELINK, I. John, Calvin’s First Catechism: A Commentary (Columbia Theological Seminary).
18. HOLWERDA, David, ed. Exploring the Heritage of John Calvin (Baker Book House).
19. JOHNSON, Terry L., Traditional Protestantism – The Solas of the Reformation (Banner of Truth).
20. KLOOSTER, Fred H., A doutrina de Calvino sobre a predestinação (SOCEP).
21. KUYPER, Abraham, Calvinismo (Editora Cultura Cristã).
22. MCGRATH, Alister, A vida de João Calvino (Editora Cultura Cristã).
23. MULLER, Richard A, The Unaccommodated Calvin: Studies in the Foundation of a Theological Tradition. Oxford Studies in Historical Theology (Oxford University Press).
24. PALMER, Edwin H., Doctrinas Claves (The Banner of Truth).
25. PARTEE, Charles, The Theology of John Calvin (Westminster John Knox Press).
26. REID, W. Stanford, Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental (Editora Cultura Cristã).
27. REYMOND, Robert L., John Calvin: His Life And Influence (Christian Focus).
28. SABINO, Felipe, ed., Calvino – O Mestre da Igreja (Editora Monergismo).
29. STEELE, David N. & Curtis C. Thomas, The Five Points of Calvinism – Defined, Defended, Documented (Presbyterian & Reformed Publishing).
30. WALLACE, Ronald, Calvino, Genebra e a Reforma (Editora Cultura Cristã).
31. WARFIELD, B.B., Calvin and Calvinism (Baker Book House), volume 5.
32. WRIGHT, R.C.McGregor, A soberania banida - redenção para a cultura pós-moderna (Editora Cultura Cristã).
33. Reforma Siglo 21 - El Legado de Juan Calvino después de 500 años - Boletín Teológico de CLIR Vol. 11/2, Octubre 2009 [edição especial].
34. Série Colóquios – O Pensamento de João Calvino (Editora Mackenzie), vol. 2.

Outras obras sobre a Vida e Pensamento de Calvino

Biblioteca calvinista - 1

Há algum tempo penso em preparar uma lista de livros que calvinistas precisariam ter em sua biblioteca particular. Estou convencido que a teologia que melhor reflete o ensino da Escritura Sagrada, bem como a melhor cosmovisão, é aquele sistema conhecido como Calvinismo.[1] O impacto deste sistema de pensamento entre os protestantes forjou um grupo de cristãos que se fizeram notar em todas as esferas da sociedade. Ilustrando a minha opinião, cito o historiador e teólogo escocês James Orr afirmando que
o sistema de Calvino é reflexo de sua mente - severa, grande, lógica, ousada - para elevar-se às alturas; contudo, humilde em retornar sempre às Escrituras como sua base. Fundamentando-se no trono de Deus, Calvino percebe tudo à luz do decreto eterno divino. O homem em seu estado de pecado perdeu a sua liberdade espiritual e o poder de fazer algo que seja verdadeiramente bom, ainda que Calvino admita livremente a existência da virtude natural, e a atribua à operação da divina graça, inclusive em seu estado não regenerado (Institutas II. 2. 12-17). A providência de Deus governa e abrange tudo, tanto o natural como o espiritual. Tudo o que acontece é o iluminar do conselho eterno. Tudo o que é atraído ao reino de Deus, o é por um ato livre da graça, e ainda assim a omissão dos não salvos deve ser atribuída a uma origem na vontade divina eterna, por mais misteriosa que seja. A vontade de Deus, deste modo, contém em si as razões últimas de tudo o que existe. Não é arbitrária, mas, uma vontade santa e boa, ainda que as razões do que ocorre na realidade no governo do mundo nos sejam inescrutáveis. A comunidade de sua Igreja se estende a muitos países. O seu sistema entra como um ferro no sangue das nações que a receberam. Levantaram-se os huguenotes franceses, os puritanos ingleses, os escoceses, os holandeses, os da Nova Inglaterra; gente valorosa, livre e temente a Deus. Prostrando o homem diante de Deus, mas exaltando-o novamente na consciência de uma liberdade, nascida de novo em Cristo; mostrando a sua escravidão por causa do pecado, mas restaurando-o na liberdade mediante a graça; guiando-o para que veja todas as coisas à luz da eternidade, contribuiu para formar um tipo vigoroso, mas nobre e elevado de caráter, criou uma raça que não se intimida em levantar a cabeça diante dos reis.
[2]

Este breve artigo introdutório visa três tipos de leitores: teólogos acadêmicos, estudiosos e membros de igreja. Desejo aos primeiros apenas declarar que esta lista é uma sugestão, de modo que pouco ajudo naquilo que vocês estão acostumados, isto é, à pesquisa acadêmica. Todavia, acadêmicos nem sempre expressam com precisão e fidelidade o que realmente é o Calvinismo. Por exemplo, é de se admirar que alguém como Dr. Norman Geisler distorça o que realmente seja o Calvinismo, apresentando-se como um adepto deste pensamento, sendo que na realidade ele é um arminiano incoerente.[3] Assim, vergonhosamente vemos acadêmicos errando em coisas básicas. Não recomendo o seu livro caso queira entender o que o Calvinismo pensa do compatibilismo: soberania de Deus e liberdade humana.[4]

Não me passa pela mente que acadêmicos não possam ler outros livros de perspectiva dissonante à nossa. Eu não seria tão obscurantista assim! Mas, se realmente querem ter um coerente sistema teológico necessitam construir o seu conhecimento a partir de fontes seguras. Quando iniciamos o nosso estudo teológico, em geral, desconhecemos autores, bem como as obras de referência mais importantes em cada área. Por isso, a nossa tendência é de adquirir o que estiver disponível, todavia, nem sempre aqueles livros serão realmente proveitosos. Enquanto estamos no Seminário Teológico, professores e colegas mais experientes indicam, advertem e criticam este ou aquele autor, e isto facilita o processo de se criar um filtro para que se torne seletivo na formação de uma boa biblioteca. Com o tempo aprendemos a andar sozinhos, mas sempre precisando uns dos outros. Afinal, o estudo proporciona a maturidade e a capacidade de interagir com o diferente, sem se contaminar.

Em segundo lugar, escrevo aos estudiosos, ou seja, àqueles que mesmo não sendo formados em teologia interessam-se pelo assunto. Estes caso não tenham orientação acerca de quais obras são essenciais para conhecer-se o Calvinismo, correm o risco de perderem-se nos muitos escritores imprecisos, ou confusos. Mesmo que lendo muito, sofrem o perigo de não se aprofundar, por não terem em mãos boas obras sobre o assunto.

Ao último grupo compilo esta lista com a intenção de que cresçam no seu amor por Cristo. Em geral, os membros desejam ler para entender melhor as doutrinas da Escritura Sagrada. Simplesmente quero orientá-los a adquirir os livros certos para o que buscam. É minha inabalável convicção que o Calvinismo é a expressão das doutrinas da graça, ou também chamado de antigo evangelho do nosso Redentor Jesus Cristo. Ele fala de Deus como o soberano Deus, que manifesta os seus atributos majestosamente em suas obras: decreto, criação, providência e redenção, de modo que, “dele e por meio dele e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Rm 11:36).

Mas, você precisa definir: qual o seu alvo ao estudar teologia? Se você almeja a docência, então terá que ter uma biblioteca bem eclética, mas se o seu objetivo é crescer positivamente no amor de Cristo, e preparar-se para servir na edificação do ensino e na pregação da Palavra de Deus no meio da igreja de Cristo, então você não pode perder tempo nem dinheiro com futilidades e livros que apenas encherão a sua mente com complicadas e confusas teorias humanas. A sua biblioteca é como um celeiro de onde você tira alimento para servir a Igreja de Deus.

Advirto-o de que nem todo livro que recebe o elogio - “este é bom!” - deve ser irrefletidamente adquirido. Precisamos nos perguntar: “sim, se ele é bom, em que sentido se qualifica em meus estudos? Prá que eu o adquirirei? Como ele me será proveitoso?” Um livro não deve ter a utilidade limitada de sustentar outros livros na estante, ou de impressionar alguém inchando a nossa biblioteca. Não podemos perder tempo nem dinheiro com material inferior ou de orientação teológica confusa. Se o seu propósito em estudar teologia é crescer no conhecimento e na graça de nosso Senhor Jesus, então adquira e leia consistentemente com o seu alvo.

Mas, em áreas específicas da teologia é um equívoco crer que coerentemente poderemos aprender sobre teologia reformada sem autores calvinistas. Desculpem-me se esta afirmação parece óbvia, mas na prática ela demonstra que não é! Professores de teologia e algumas obras discordantes da herança doutrinária da Reforma, especialmente do Calvinismo, descrevem-na distorcidamente produzindo uma horrorosa caricatura dogmática daquilo que realmente cremos. Mesmo apresentando serem detentores de algum tipo de saber, e apresentando uma titulação respeitável, não poucas vezes, eles são incapazes de realizar uma pesquisa acurada, deixando que a influência preconceituosa de suas premissas domine as suas opiniões. Por isso, não conseguem ser honestos em sua avaliação do Calvinismo.

Esta não é uma lista de livros que compõe todo um Curso de Teologia. Os estudantes da área conhecendo a grade curricular do seu curso perceberão que há a ausência de algumas obras específicas. Entretanto, observe-se que algumas disciplinas podem ser compartilhadas com teólogos que não subscrevam o Calvinismo. As disciplinas como Introdução ao Antigo Testamento ou, Geografia Bíblica, não se indicam por serem partidárias da Teologia Reformada, mas, por eruditos que aceitam um conceito elevado das Escrituras. Por exemplo, é impossível ser um coerente calvinista e aceitar a Teoria Documentária do Antigo Testamento, ou a perspectiva crítica da Demitologização de Rudolf Bultmann. Deste modo, calvinistas colocam-se ombro a ombro com outros teólogos não-calvinistas por aceitarem a veracidade, inerrância e credibilidade integral da Escritura Sagrada: Sola Scriptura. Ainda assim, procurarei indicar teólogos de tradição reformada que têm produzido uma literatura com contornos explicitamente calvinistas.

Como toda lista ela sempre estará desatualizada, mesmo porque as editoras não param de lançar a cada semestre, outros livros que poderíamos endossar aqui. Deste modo, caso alguém queira contribuir com uma indicação, por favor, sinta-se à vontade para comentar e sugerir, e como esta lista visa os estudantes brasileiros, caso algumas das obras citadas em inglês esteja lançada em português avisem-me.

Notas
[1] Para um esclarecimento do que afirmo veja Abraham Kuyper, Calvinismo (Editora Cultura Cristã).
[2] James Orr, El Progreso del Dogma, (Barcelona, CLIE), pág. 233.
[3] Veja Norma Geisler, Eleitos, mas livres (Editora Vida). Para ler a resenha do livro click aqui.
[4] Caso queira ir direto ao assunto e ler algo realmente proveitoso sugiro Heber C. de Campos, O Ser de Deus e as suas obras - A Providência de Deus (Editora Cultura Cristã).